CRIATIVIDADE
Retirado
do livro Subindo para Missões – José Bernardo
“...
e cada um dos construtores trazia na
cintura uma espada enquanto trabalhava; e comigo ficava um homem pronto para
tocar a trombeta.” Neemias 4:18
Alguns
jovens tem uma visão idealizada da obra missionária, talvez porque muitas
biografias são escritas com o objetivo de exaltar as qualidades de um
missionário. Na mente das pessoas fica a ideia de que tudo funciona sem
problemas em um grande projeto de evangelização. Não fica claro que há
contratempos, oposições, faltas, dívidas, cortes, ausências, riscos e acidentes
e que um missionário deve ter criatividade que lhe permita enfrentar todos
esses problemas. No capítulo quatro vemos que forte e destrutiva oposição
Neemias precisou enfrentar, e que recursos utilizaram para superar e vencer.
Judá estava sob domínio do poderoso Império
Persa.
Como era costume naquele tempo, terras conquistadas eram recolonizadas com a
movimentação de povos de um lado para outro, dessa forma a resistência das
pessoas era quebrada e nunca havia unidade suficiente para ameaçar o domínio do
conquistador. Por isso Judá estava cercada de líderes opositores: ao norte,
Sambalate, o líder dos samaritanos; a leste, Gesém, o príncipe de uma coligação
de tribos árabes; ao sul, Tobias, o líder dos amonitas. Inimigos assim já
haviam parado aquela obra uma vez, e agora queriam impedi-la novamente. Somente
neste capítulo quatro tentativas, com diferentes estratégias, são relatadas.
Contra cada uma Neemias criou soluções eficazes. A oposição tinha um sistema de
informação sobre tudo o que acontecia em Jerusalém. Sabemos que havia um
indecente leva e traz com vários agentes duplos ao redor de Neemias. Baseada
nessas informações, a primeira estratégia foi a zombaria. Ridicularizar pode destruir
a confiança, causar descrédito e assim enfraquecer. Sambalate parece ter
organizado um desfile militar ou algum tipo de festa que reuniu os aliados e
suas tropas em uma demonstração de força e ali desmereceu e ridicularizou o
trabalho e o esforço dos judeus. Diante dessa situação, Neemias primeiro orou.
Ele também meditou nas Escrituras pois cita Jeremias em sua oração (Jr 18:23).
Além disso, enquanto o inimigo não avançava, Neemias aproveitou o tempo e tomou
a decisão de distribuir os esforços de modo que ao invés de avançar em alguns
setores, todo o muro crescesse por igual, assim, logo ofereceu alguma proteção.
Essa capacidade de antecipação está implícita em uma guerra de nervos que nunca
avançou, muito possivelmente por causa daquelas cartas que o copeiro do rei
pediu lá no primeiro capítulo, e que deve ter passado para entregar a Gesém,
Sambalate e Tobias antes de chegar a Jerusalém. Santa criatividade! (Ne 4:1-6).
A segunda estratégia do inimigo foi o complô. Começou com a aquisição de reforços
que Sambalate deveria estar pleiteando a algum tempo. Pela primeira vez são
citados os 'homens de Asdode' poderosa cidade a oeste, na Filístia. Assim
Jerusalém estava agora cercada por todos os lados. A espionagem continuou trabalhando
a favor do inimigo e eles usaram as informações para planejar o ataque. A idéia
era um ataque massivo que provocasse confusão entre os judeus, e facilitasse a
vitória (Ne 4:7,8). Neemias aproveitou o tempo e identificou pontos
estratégicos que tratou de reforçar enquanto o muro continuava a subir. Diante
do complô ele novamente orou, e o "nós oramos" nos mostra que ele não
somente orava, como também envolvia a outros na oração. Ainda, sem nunca
distinguir entre medidas espirituais e materiais, ele determinou turnos de
permanente vigilância. Orou e vigiou! (Ne 4:7-9). A terceira estratégia do
inimigo foi a intimidação. Logo ficamos sabendo como isso funcionou: estava
todo mundo dizendo que era impossível cumprir a missão. O povo estava
desmotivado e isso o fazia sentir-se cansado. Vieram também as ameaças de
ataque surpresa, de morte e de destruição. O sistema de informação também pode
ser uma arma, principalmente quando semeia desinformação e aprofunda ainda mais
a desmotivação e o medo. Mas Neemias era criativo, ele tinha sempre uma nova
solução desenvolvida sob medida para os desafios que enfrentava. Primeiro
identificou novos pontos que precisavam de reforço e escolheu pessoas que
moravam por ali para obter maior comprometimento com a vigilância. Ele também
guarneceu estes pontos com três cargas: arcos para ataques a longa distância,
lanças para meia distância e espadas para a luta corpo a corpo. Depois fez
ainda outra avaliação da situação, e um forte discurso motivacional. (Ne
4:10-14). Agora a informação funcionou a favor de Judá. O inimigo foi
desarticulado e recuou, mas é então que Neemias organiza sua estratégia mais
intensiva. O fato é que a aparente ausência do inimigo implica em uma tensão
ainda maior. Um amigo que viveu a infância no Oriente Médio me disse que dormia
melhor sob o som de bombardeios, pois assim era possível saber onde as bombas
estavam caindo. O silêncio era aterrorizante. Neemias respondeu ao silêncio:
distribuiu os homens por várias funções, incrementou o equipamento defensivo
(escudos para lanceiros, couraças para arqueiros), garantiu o apoio da
liderança (liderança de servos), adaptou armamento e estratégias às funções dos
construtores para otimizar o rendimento e estabeleceu um sistema de alarme e
pronta resposta. (Ne 4:15-22). Criatividade é imprescindível na obra
missionária. Estamos em uma guerra espiritual e somos atacados todos os dias de
todas as formas. A pior coisa que nos poderia acontecer é ficarmos lamentando e
imaginando como as coisas deveriam ser ao invés de nos reorganizarmos para
obter o melhor resultado em cada contingência ou situação que enfrentamos. Na
AMME Evangelizar esse é um tema prioritário. Temos estudado, pesquisado,
experimentado e ensinado sobre criatividade. Desde 2004 passamos de adaptar
para desenvolver programas evangelísticos que alcançaram milhões de pessoas.
Desenvolvemos soluções para ajudar as igrejas a lidarem com a violência doméstica,
a autoestima, o bullying, as escolhas e outros temas semelhantes. Estes
programas envolveram textos, ilustrações, design, web-design, treinamento,
publicidade e modelos de distribuição. Também, para administrar um ministério
como o nosso e atender milhares de igrejas, a nossa equipe deve criar todos os
dias dezenas de soluções para comunicação, logística, finanças e
relacionamentos. É a sequência bem sucedida de soluções criativas que
impulsiona os resultados de nossa agência missionária. Além disso, em programas
de capacitação como a EAE - Escola Avançada de Evangelização, temos ensinado
criatividade a centenas de líderes de evangelização em todo o Brasil. Quero que
você se inspire na história de Neemias e, sobretudo, no exemplo dele para ser
um missionário. Creio que a extraordinária criatividade de Neemias está
associada ao seu insuspeito compromisso com aquele projeto: "Eu, os meus
irmãos, os meus homens de confiança e os guardas que estavam comigo nem tirávamos
a roupa, e cada um permanecia de arma na mão." Ne 4:23. Afinal, ninguém
cria quando não precisa. Criatividade é a capacidade humana para solucionar
problemas que se têm e suprir necessidades que se sentem. Além do compromisso a
criatividade demanda flexibilidade. A pessoa criativa não tem pena de fazer
mudanças, não fica reclamando e querendo deixar tudo como está. A mudança sem
propósito é improdutiva, e um líder a evita a todo custo, mas, quando chega a
hora de mudar, o verdadeiro líder é rápido, preciso e intenso. Isso nos leva ao
terceiro elemento da criatividade, a sintonia. Diferente do que se poderia
crer, a pessoa criativa vive no mundo real, está sintonizada com os fatos à
volta, de modo que a criatividade é aplicada sobre as informações, como
resposta a riscos e oportunidades conhecidos. A criatividade utiliza os
recursos disponíveis para produzir resultados. Por agora deixe-me dizer a você
que todas as pessoas são criativas, você também. Cheguei à conclusão de que há
quatro estilos de criação e um deles deve ser o seu: há pessoas que criam por
ordenação, elas arranjam as coisas em uma nova ordem e acham a solução; outros
criam por adaptação, vão ajustando, melhorando, até chegarem a algo que serve,
que funciona; há quem crie por síntese, misturando coisas que outros não
misturariam; também há os que criam por tentativa, insistindo de diversas
formas até funcionar. Então o problema não é falta de criatividade. Usar ou não
a criatividade que se tem depende disso: compromisso, flexibilidade e sintonia.
A obra missionária não é lugar para quem desiste antes de tentar, nem para quem
reclama ao invés de agir, nem para quem quer viver um conto de fadas. Se você
não consegue se envolver plenamente com o que está fazendo, se não quer ser
flexível e se prefere evitar a realidade, você não será capaz de usar a
criatividade que tem, vai parar no quarto andar, sem poder subir para missões
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