terça-feira, 24 de março de 2015

CRIATIVIDADE nas missões

CRIATIVIDADE
Retirado do livro Subindo para Missões – José Bernardo

“...  e cada um dos construtores trazia na cintura uma espada enquanto trabalhava; e comigo ficava um homem pronto para tocar a trombeta.” Neemias 4:18



Alguns jovens tem uma visão idealizada da obra missionária, talvez porque muitas biografias são escritas com o objetivo de exaltar as qualidades de um missionário. Na mente das pessoas fica a ideia de que tudo funciona sem problemas em um grande projeto de evangelização. Não fica claro que há contratempos, oposições, faltas, dívidas, cortes, ausências, riscos e acidentes e que um missionário deve ter criatividade que lhe permita enfrentar todos esses problemas. No capítulo quatro vemos que forte e destrutiva oposição Neemias precisou enfrentar, e que recursos utilizaram para superar e vencer. Judá estava sob domínio do poderoso Império

Persa. Como era costume naquele tempo, terras conquistadas eram recolonizadas com a movimentação de povos de um lado para outro, dessa forma a resistência das pessoas era quebrada e nunca havia unidade suficiente para ameaçar o domínio do conquistador. Por isso Judá estava cercada de líderes opositores: ao norte, Sambalate, o líder dos samaritanos; a leste, Gesém, o príncipe de uma coligação de tribos árabes; ao sul, Tobias, o líder dos amonitas. Inimigos assim já haviam parado aquela obra uma vez, e agora queriam impedi-la novamente. Somente neste capítulo quatro tentativas, com diferentes estratégias, são relatadas. Contra cada uma Neemias criou soluções eficazes. A oposição tinha um sistema de informação sobre tudo o que acontecia em Jerusalém. Sabemos que havia um indecente leva e traz com vários agentes duplos ao redor de Neemias. Baseada nessas informações, a primeira estratégia foi a zombaria. Ridicularizar pode destruir a confiança, causar descrédito e assim enfraquecer. Sambalate parece ter organizado um desfile militar ou algum tipo de festa que reuniu os aliados e suas tropas em uma demonstração de força e ali desmereceu e ridicularizou o trabalho e o esforço dos judeus. Diante dessa situação, Neemias primeiro orou. Ele também meditou nas Escrituras pois cita Jeremias em sua oração (Jr 18:23). Além disso, enquanto o inimigo não avançava, Neemias aproveitou o tempo e tomou a decisão de distribuir os esforços de modo que ao invés de avançar em alguns setores, todo o muro crescesse por igual, assim, logo ofereceu alguma proteção. Essa capacidade de antecipação está implícita em uma guerra de nervos que nunca avançou, muito possivelmente por causa daquelas cartas que o copeiro do rei pediu lá no primeiro capítulo, e que deve ter passado para entregar a Gesém, Sambalate e Tobias antes de chegar a Jerusalém. Santa criatividade! (Ne 4:1-6). A segunda estratégia do inimigo foi o complô. Começou com a aquisição de reforços que Sambalate deveria estar pleiteando a algum tempo. Pela primeira vez são citados os 'homens de Asdode' poderosa cidade a oeste, na Filístia. Assim Jerusalém estava agora cercada por todos os lados. A espionagem continuou trabalhando a favor do inimigo e eles usaram as informações para planejar o ataque. A idéia era um ataque massivo que provocasse confusão entre os judeus, e facilitasse a vitória (Ne 4:7,8). Neemias aproveitou o tempo e identificou pontos estratégicos que tratou de reforçar enquanto o muro continuava a subir. Diante do complô ele novamente orou, e o "nós oramos" nos mostra que ele não somente orava, como também envolvia a outros na oração. Ainda, sem nunca distinguir entre medidas espirituais e materiais, ele determinou turnos de permanente vigilância. Orou e vigiou! (Ne 4:7-9). A terceira estratégia do inimigo foi a intimidação. Logo ficamos sabendo como isso funcionou: estava todo mundo dizendo que era impossível cumprir a missão. O povo estava desmotivado e isso o fazia sentir-se cansado. Vieram também as ameaças de ataque surpresa, de morte e de destruição. O sistema de informação também pode ser uma arma, principalmente quando semeia desinformação e aprofunda ainda mais a desmotivação e o medo. Mas Neemias era criativo, ele tinha sempre uma nova solução desenvolvida sob medida para os desafios que enfrentava. Primeiro identificou novos pontos que precisavam de reforço e escolheu pessoas que moravam por ali para obter maior comprometimento com a vigilância. Ele também guarneceu estes pontos com três cargas: arcos para ataques a longa distância, lanças para meia distância e espadas para a luta corpo a corpo. Depois fez ainda outra avaliação da situação, e um forte discurso motivacional. (Ne 4:10-14). Agora a informação funcionou a favor de Judá. O inimigo foi desarticulado e recuou, mas é então que Neemias organiza sua estratégia mais intensiva. O fato é que a aparente ausência do inimigo implica em uma tensão ainda maior. Um amigo que viveu a infância no Oriente Médio me disse que dormia melhor sob o som de bombardeios, pois assim era possível saber onde as bombas estavam caindo. O silêncio era aterrorizante. Neemias respondeu ao silêncio: distribuiu os homens por várias funções, incrementou o equipamento defensivo (escudos para lanceiros, couraças para arqueiros), garantiu o apoio da liderança (liderança de servos), adaptou armamento e estratégias às funções dos construtores para otimizar o rendimento e estabeleceu um sistema de alarme e pronta resposta. (Ne 4:15-22). Criatividade é imprescindível na obra missionária. Estamos em uma guerra espiritual e somos atacados todos os dias de todas as formas. A pior coisa que nos poderia acontecer é ficarmos lamentando e imaginando como as coisas deveriam ser ao invés de nos reorganizarmos para obter o melhor resultado em cada contingência ou situação que enfrentamos. Na AMME Evangelizar esse é um tema prioritário. Temos estudado, pesquisado, experimentado e ensinado sobre criatividade. Desde 2004 passamos de adaptar para desenvolver programas evangelísticos que alcançaram milhões de pessoas. Desenvolvemos soluções para ajudar as igrejas a lidarem com a violência doméstica, a autoestima, o bullying, as escolhas e outros temas semelhantes. Estes programas envolveram textos, ilustrações, design, web-design, treinamento, publicidade e modelos de distribuição. Também, para administrar um ministério como o nosso e atender milhares de igrejas, a nossa equipe deve criar todos os dias dezenas de soluções para comunicação, logística, finanças e relacionamentos. É a sequência bem sucedida de soluções criativas que impulsiona os resultados de nossa agência missionária. Além disso, em programas de capacitação como a EAE - Escola Avançada de Evangelização, temos ensinado criatividade a centenas de líderes de evangelização em todo o Brasil. Quero que você se inspire na história de Neemias e, sobretudo, no exemplo dele para ser um missionário. Creio que a extraordinária criatividade de Neemias está associada ao seu insuspeito compromisso com aquele projeto: "Eu, os meus irmãos, os meus homens de confiança e os guardas que estavam comigo nem tirávamos a roupa, e cada um permanecia de arma na mão." Ne 4:23. Afinal, ninguém cria quando não precisa. Criatividade é a capacidade humana para solucionar problemas que se têm e suprir necessidades que se sentem. Além do compromisso a criatividade demanda flexibilidade. A pessoa criativa não tem pena de fazer mudanças, não fica reclamando e querendo deixar tudo como está. A mudança sem propósito é improdutiva, e um líder a evita a todo custo, mas, quando chega a hora de mudar, o verdadeiro líder é rápido, preciso e intenso. Isso nos leva ao terceiro elemento da criatividade, a sintonia. Diferente do que se poderia crer, a pessoa criativa vive no mundo real, está sintonizada com os fatos à volta, de modo que a criatividade é aplicada sobre as informações, como resposta a riscos e oportunidades conhecidos. A criatividade utiliza os recursos disponíveis para produzir resultados. Por agora deixe-me dizer a você que todas as pessoas são criativas, você também. Cheguei à conclusão de que há quatro estilos de criação e um deles deve ser o seu: há pessoas que criam por ordenação, elas arranjam as coisas em uma nova ordem e acham a solução; outros criam por adaptação, vão ajustando, melhorando, até chegarem a algo que serve, que funciona; há quem crie por síntese, misturando coisas que outros não misturariam; também há os que criam por tentativa, insistindo de diversas formas até funcionar. Então o problema não é falta de criatividade. Usar ou não a criatividade que se tem depende disso: compromisso, flexibilidade e sintonia. A obra missionária não é lugar para quem desiste antes de tentar, nem para quem reclama ao invés de agir, nem para quem quer viver um conto de fadas. Se você não consegue se envolver plenamente com o que está fazendo, se não quer ser flexível e se prefere evitar a realidade, você não será capaz de usar a criatividade que tem, vai parar no quarto andar, sem poder subir para missões

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